Em 1988, lançado foi “A Insustentável Leveza do Ser”. Uma adaptação cinematográfica do livro homônimo que o tcheco Milan Kundera, seu autor, publicara 04 anos antes. Todavia, a película, conduzida pelo norte-americano Philip Kaufman, tem a sua duração, de mais de duas horas, amainada por Juliette Binoche, no frescor dos seus 23 anos de idade.
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Mas, durante a história, um detalhe levanta a orelha do espectador mais atento: a melodia de “Hey, Jude”.
Sim, a inconfundível música que carrega a assinatura sonora de Paul McCartney. Dado que John Lennon só rubricou a partitura.
Só que cantada no idioma tcheco.
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Cantada por Marta Kubišová.
Que nasceu no 01º dia do mês de novembro de 1942, em České Budějovice, na (então) Tchecoslováquia – a, hoje, República Tcheca.
E que, no começo dos anos 1960, início a sua carreira musical deu.
Ganhando notoriedade nacional em 1966.
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Quando participou da 01ª edição do “Bratislavská Lyra” – uma espécie de Festival da MPT (Música Popular Tcheca). Em que, em um dueto com Helena Vondráčokva, defendeu a canção “Oh, Baby, Baby”, de autoria de Bohuslav Ondráček e Jan Schneider. Que ficou em 02º lugar.
Com a música “Mám Rozprávkový Dom” – “Eu Tenho Uma Casa de Fadas” –, que foi composta por Varoslav Matušik e Eliška Jelínková, sob a interpretação de Karel Gott, atingindo o 01º lugar.
01º posto, aliás, que Marta Kubišová alcançou um 1968, com a música “Cesta” – “Caminho” -, de Jindřich Brabec e Petr Rada.
De volta a 1966...
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O sucesso amealhado com o festival rendeu a Marta o convite, por parte do diretor Jan Neměc, para participar do filme “Mártires do Amor” – “Mučedníci Lásky” –, um clássico do “Cinema Verdade” – o “Cinéma Vérité”.
Cinema Verdade que é uma narrativa de origem francesa que nada mais é do que filmar uma ficção com linguagem de documentário.
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Como Woody Allen fez em Zelig, de 1988.
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Ademais, Marta Kubišová continuou atuando – tanto no cinema como na música – e, em 1969, lançou um compacto simples, que tinha ‘Hej, Jude’, no lado A, e “ Všechny Bolesti Utiši Láska” – “Toda Dor Será Aliviada Pelo Amor, no lado B.
Ora que essa versão da obra dos Beatles explicita o malabarismo poético que tem de ser perpetrado para que se encaixe o significado de uma letra na métrica de uma determinada melodia.
Que fica evidente logo no 01º verso.
O qual deve ser examinado à luz do original, em inglês, da versão tcheca e da brasileira, que foi feita por Rossini Pinto e imortalizada por Kiko Zambianchi no álbum “Era das Flores”, de 1989.
Em português: “Hey, Jude, não fique assim”.
Tcheco: “Hej, Jude, co dá ti pláč” – “Hey, Jude, o que te faz chorar”.
E o original: “Hey, Jude, don’t make it bad” – “Hey, Jude, não piore as coisas”.
Logo, as 03 primeiras sílabas – “Hej”, “Ju” e “de” – são pronunciadas em acordo com as originais.
Depois, na 04ª – “co” (cuja pronúncia é “so”) –, se mantém o som fechado da letra “o”, ao contrário da brasileira, que busca uma paridade nasal com a original – “não” e “don’t”.
A 05ª – “dá” –, só mantém a tonicidade da inglesa. Uma tonicidade que, na brasileira, foi acrescida de uma aproximação sonora por meio da letra “i” – já que “ma” (que se articula como “mei) ecoa em “fi”.
E, na linha das palatais, na 06ª, as 03 vão pelo mesmo caminho – “ke” mais "it", “ti” e “que”, a qual se junta o “a”, em função da contagem de sílaba poética.
Por fim, na 07ª, há o “pláč” (que se lê “plach”), que, de longe, esbarra em “bad”. “Bad” que, em espírito, topa com o “ssim”, posto que o verso termina em uma sílaba tônica.