quarta-feira, 29 de junho de 2022

O REI DE SALÉM






            “Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos seus discípulos dizendo: ‘Tomai e comei, isto é o meu corpo’. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-o dizendo: ‘Bebei dele todos, porque isto é o meu sangue, sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados’” – Mateus 26:26-28.Todavia, essa metáfora antropofágica teve início antes do ponto estabelecido pelo calendário gregoriano como o princípio da era cristã. E se mistura com esse período por causa de Jerusalém. “Jeru” “Salém”. Ou “Yerushalaim” – em hebraico. Que significa “Reino da Paz”. Visto que “Shalaim” é o mesmo que “Shalom”.





            Mas onde nasce a relação entre antropofagia, cristianismo e Jerusalém? Bem, por volta de 1800 a.C, Elasar, rei de Codorlaomor, em parceria com outros reis, tomou de assalto tanto Sodoma como Gomorra. E, além da pilhagem, levou os habitantes dessas cidades como escravos. Sendo que entre os degredados estava Lot. Lot que vivia em Sodoma e era sobrinho de Abrão – o patrono dos israelitas.
            Logo, Abrão travou uma guerra contra Elasar e venceu-o. E assim resgatou tanto Lot como os outros e os bens roubados.
            Ao regressar, a caminho de Hebron – sua cidade –, Abrão parou no Vale de Savé para receber as salvas de Bora, rei de Sodoma, e de Melquisedeque, rei de Salém.
            Melquisedeque, todavia, não é um nome. E sim, um posto. Posto que a acepção de “Melqui” é “Regente” e “Sedeque” é “Justiça”. Logo, é aquele que determina o que é justo. Já que naquela época o governante também era o juiz de seu povo. Impondo o poder por meio da busca do equilíbrio. Da aplicação de uma harmonia que, em alguns casos, recebia diretamente da Divindade. E Melquisedeque era o “Sacerdote do Deus Altíssimo”. O responsável pelo ritual do Sangreal. Pois a palavra “sacerdote” vem de “sacerdos”. Que é uma junção do termo em latim “sacer”, “sagrado”, com o vocábulo grego “dot”, que significa “oferta”. Oferta que se fazia num rito em que se imolava um Rei Sacrifical. Depois, se arrancava o seu coração e com ele enchia de sangue um cálice. Um Graal do qual bebiam os membros da tribo. Com isso, criando um elo consangüíneo que garantiria o renascimento do mesmo entre o seu povo. Trazendo junto uma habilidade, aprendida com a Divindade, para desenvolver uma tecnologia capaz de promover o equilíbrio e um consequente avanço social.





            Então – segundo Gênesis 14:18 – Melquisedeque fez uma alegoria do ritual ao entregar o pão e o vinho a Abrão. Passando a tradição do Graal a um novo Rei. Sendo que, talvez por um presságio, ele entendia que a vitória de Abrão na peleja era um desígnio divino. E, em retribuição – Gênesis 14:20 –, o novo Rei deu um décimo dos seus despojos a Melquisedeque. Assim criando o conceito da gratidão por meio do dízimo. Já que “dízimo” vem do latim “decimu” e equivale à décima parte.
            O Salmo 109, do Rei Davi, intitulado como “O Messias, Rei e Sacerdote”, dá continuidade a essa história. Porque trata da “Ordem de Melquisedeque”. Mas a Ordem não foi passada a Abrão?





            Sim. E, conseqüentemente, usufruída pelo cristianismo. Cristianismo que foi idealizado sobre os conceitos do Sangreal. Já que a figura de Jesus foi criada como sendo o filho de Deus. Com isso, ocupando o cargo de Messias. Assim dando uma identidade definitiva a essa condição. Sendo que a palavra “Messias” vem do hebraico “Mashiach” e significa “Ungido”. E corresponde a todo aquele que traz uma tecnologia em benefício da humanidade. Como Edward Jenner, que inventou a vacina, em 1789, Santos Dumont, que inventou o avião, em 1906, ou Philo Fansworth, que inventou a televisão, em 1927.





            Se assim é, quem é que teve a idéia de oficializar Jesus como Messias? E o que é que tem a ver Messias com Melquisedeque?
            Bem, Paulo, mais conhecido como São Paulo, foi quem criou o imbróglio. Visto que, a fim de dar uma direção à evolução do cristianismo, ele, com suas cartas, passou por cima do que Mateus, Marcos, Lucas e João – os idealizadores da seita – tinham escrito. E com isso criou-se uma contradita entre o que foi dito que Cristo disse nos quatro evangelhos e o que se disse que o dito teria dito nas epístolas de Paulo.
            Não importa! Do dito e o desdito só sobrou o dízimo. Tudo, pois Paulo se aproveitou de três lacunas deixadas na história de Melquisedeque. Como é relatado em Hebreus 7:3. Primeiro: o fato da personagem não ter uma genealogia. Em segundo: não ter registro de um início ou fim. Suscitando uma narrativa ambígua, em terceiro. Logo, o design do que, com certos retoques, se tem hoje como o “Papa”. E assim, com uma conversa que só tem relevância para os adeptos do cristianismo, Paulo disse que a tribo de Levi fora destituída do seu sacerdócio. A tribo de Levi que, das 12 tribos de Israel, era incumbida, por Deus, da manutenção da Arca da Aliança e, consequentemente, de todos os rituais. E, como tal, ela recebia o dízimo pelo serviço prestado. Dízimo que então mudou de credor. Já que Jesus, na condição de Messias perpétuo, detinha um saber ímpar. Uma exclusividade que, no repasse para os demais, fazia dele o “sacerdote-mor”. O que, somado ao fato de que ele era de outra tribo (da de Judá) também lhe excluía de qualquer compromisso com a lei vigente. E assim, foi instituído um novo programa de governo. Que consistia na abolição do sacrifício. Pois, segundo o que se disse que foi dito, o sacrifício então praticado não levou o povo a uma suposta salvação. E, além disso, a morte de Cristo era o sacrifício derradeiro. Pelo pecado do mundo. Assim, sujeitando todo aquele que pecasse, deste então, a uma autoflagelação psicológica em busca da salvação. Pois este não imitou a Cristo. Que era um ser perfeito e não tinha pecado. Posto que ao seu currículo não se acrescentou o caso dele ter partido para a pancadaria com os vendilhões do templo, ter amaldiçoado uma figueira e, praticamente, ter se suicidado ao atormentar tanto os sacerdotes judeus como os romanos a ponto de provocar a sua própria crucificação. Contudo, entrando pelas brechas que Paulo nessa história explicitou, outras correntes místicas mantêm, a seu modo, em vigor a Ordem de Melquisedeque.





            Como a Grande Fraternidade Branca. Que supostamente teria surgido no Egito durante o reinado do Faraó Tutmés III. E crê que Melquisedeque é a encarnação de Sanat Kumara. Um habitante do planeta Vênus que montou uma filial do seu mundo em uma porção de terra, no centro de um lago, chamada Ilha Branca. Que se situava numa região que o tempo transformou no Deserto de Gobi, no norte da China. Todavia, essa edificação alienígena ficou conhecida como a cidade de Shambala. Um centro espiritual de onde se salvou a Terra da decadência e consequente destruição por meio da ativação de uma luz espiritual no coração dos homens.








            Também há a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Cujos membros são conhecidos como Mórmons. Que foi fundada por Joseph Smith, em 1930. Joseph Smith que, em 1829, testemunhou uma aparição dos apóstolos Pedro, Tiago e João. E deles recebeu a incumbência de restaurar o Sacerdócio de Melquisedeque. Para tal, criou a sua igreja com o regimento dividido em sacerdócio maior e sacerdócio menor. Sendo que o menor é chamado de Sacerdócio Aarônico. Já o maior: é o Sacerdócio de Melquisedeque. Formado por uma hierarquia composta pelas categorias Elder, Sumo Sacerdote, Patriarca, Setenta e Apóstolo. Com a característica de que essa cúpula efetua curas por meio de uma energização feita com o postar das mãos.





            Também há a Fundação Urântia. Que foi oficializada por William S. Sandler em 1950. Com o fim de angariar fundos para, em 1955, lançar o livro de Urântia. Livro que menciona o fato de que o nome real do planeta Terra é Urântia. E que, de 12 Melquisedeques que habitavam no plano astral, Maquiventa Melquisedeque encarnou em Urântia. Com a missão de restituir o contato da humanidade com Deus. O que fez ao pregar o monoteísmo. Numa doutrinação que lhe rendeu muitos seguidores; dentre eles, Abrão. E assim preparou a humanidade para a chegada de Cristo.
            De um jeito ou de outro, a função de um sacerdote é travar um diálogo com a Divindade. E, por meio de pergunta e resposta, gerar um fluxo de energia que coloque o universo em movimento. Que surge do sacrifício. “Sacrifício” que é a soma da palavra em latim “sacrum”, sagrado, com “facere”, fazer. Sendo que “fazer o que é sagrado” não está apenas no ato de tirar a vida. Mas na intenção contida em uma determinada ação. E mesmo quando consistia no extirpar da vida, este era um preço pago e restituído pela existência de outros. Como foi vulgarmente exposto no sincretismo de João 18:14 – onde Caifás, o sumo sacerdote, aconselha aos judeus: “Convêm que um só morra em lugar dos demais”. E é rematado como proselitismo na ressurreição. Quando – em Marcos 16:15-16 –, Jesus disse: “Ides por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado, será salvo, mas quem não crer, será condenado”.





            Contudo, o ritual antropofágico, inda que simbólico, ainda é exercido por quem mais se aproveitou dele. O cristianismo. Em especial: a Igreja Católica. Que tem o padre como o sacerdote. E o sacrifício como a comunhão com Cristo. Comunhão com um intermediário. Um obstáculo entre o homem e a Divindade. Mas que faz com que no ato em que o padre divide a hóstia e bebe o vinho seja consumada a cerimônia do Sangreal.
            Enfim, de tudo fica o empenho em se comunicar com a Divindade. Que cobre todo aquele que tem êxito com a túnica de Melquisedeque.


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