Reclame 001

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

CARmen, NAdja e VALquíria

            “Mamãe, eu quero, mamãe, eu quero / Mamãe, eu quero mamar / Dá a chupeta, dá a chupeta / Dá a chupeta, pro bebê não chorar”, sob uma chuva de confetes e serpentinas, era o que se cantava, quando, em companhia de seus pais, Jerônimo Jacmel ao salão do Ilha Porchat Club adentrou.
            Em mente tento o intuito de desfrutar de “Uma Noite nos Mares do Sul”.
            Um evento que, naquela noite, poderia ter sido alcunhado de “Uma Noite nos Mares do Hades”. Dado que o calor era tão intenso, que fazia até o Capeta transpirar.
            Todavia, com sentimentos conflitantes a nutrir, o trio caminhou, em busca da mesa de número 15.
            Já que a mãe – que se trajava com um vestido com estampa de onça parda – queria que o Senhor Jacmel com ela estivesse dormindo (de conchinha), na cama do seu quarto.
            O pai – que se vestia de Zorro – desejava estar acordado com sua amante, no leito de um motel.
            E Jerônimo – que se fantasiava de Cavaleiro Solitário – almejava estar distante de ambos.
            Tudo porque a Senhora Jacmel – sem se importar com o vocabulário ou com quem estivasse ao alcance dele – vociferava contra seu marido, a princípio, por conta de qualquer coisa. Mas sempre ressaltando o fato de que não olhar para uma bunda não o impedia de imaginar o “recheio” dela.
            Sendo que, assim, o trio chegou à mesa que lhes fora destinada.
            Quando, na voz dos foliões, ecoaram os seguintes versos: “Chiquita bacana / Lá da Martinica / Se veste com uma casca / De banana nanica”.
            E na orelha do Senhor Jacmel, então, reverberaram os impropérios da sua esposa, assim que, diante da mesa, Nadja passou.
            Nadja que era colega de escola de Jerônimo, desde que suas idades se restringiam a um dígito.
            “Um dígito”, aliás, que nunca serviu de parâmetro para suas notas. Nunca menores do que 10.
            Que sempre foi a medida de tudo em sua vida.
            Incluindo a forma de se vestir.
            O que, na ocasião, a pareava com uma legítima polaca.
            Ademais, dos tantos pares de nádegas que desfilavam diante dele, como em um rodízio de carne, Jerônimo decidiu que um seria seu, ainda naquela noite. Senão pelo seu talento como galanteador, pelo menos, por uma questão de aritmética. Já que, visualmente, parecia ter mais cu do que pica, naquele salão. E, embora, nem todo pinto procurasse por uma bunda, e toda bunda por um pinto, os glúteos estavam em vantagem numérica.
            Então, enquanto seu pai brigava com sua mãe para poder usufruir de uma garrafa com cerveja, ele foi para o meio da farra.
            Onde, com a astúcia de um “running back”, driblou cada qual que dançava e cantava: “Tanto riso, oh, quanta alegria / Mais de mil palhaços no salão / Arlequim está chorando pelo amor da Colombina / No meio da multidão”.
            Assim, passando por Nadja, que trocava beijos com um moleque da sua escola, por uma mal-encarada mulher, que se cobria com uma fantasia de fada, que, provavelmente, sobrara na arara de um brechó, e parando diante de uma clareira.
            Onde um cidadão apontava uma câmera, cuja forte luz agredia a vista dos desorientados, para Carmen.
            Carmen que era a repórter de uma TV local.
            E ganhara notoriedade graças à sua assustadora beleza.
            Com seus dotes de beldade que, no entanto, potencializados eram por um fio dental e um bustiê. Dos quais ela se valia da parte de cima para, com um movimento do decote, hipnotizar o entrevistado. Enquanto, com a debaixo, o mantinha em estado de torpor. Já que, a fim de que apenas o álcool lhe irrigasse a ideia, fazia a outra cabeça latejar, ao deixá-lo se divertir com a bunda sua – como que brincando de enfiar o rabo no burro. Com intuito de, no fim, lhe arrancar a mais constrangedora confissão.
            O que, em um dado momento, até que funcionou.
            Mas não da forma que ela queria.
            Já que um sujeito lhe disse que tinha matado um cara. E, ao ser inquirido quanto à veracidade da informação, concluiu dizendo que o matou com a coroa, depois de ter jogado a moeda ao alto e ser traído pela sorte.
            Quando Jerônimo se aproveitou da bobeira de um dos “manguaceiros”, que esperava para falar de alguma besteira, e se postou ao lado de Carmen. Dizendo que, após ter passado, com louvor, por um rigoroso teste da NASA, ele teria a honra de ser o primeiro corintiano a pisar em Marte.
            Enquanto, de um jeito que faria muito cego sentir inveja, perpetrava uma minuciosa inspeção no rabo da cuja.
            Só não indo além, porque, em virtude da pouca idade, um misto de adrenalina com testosterona lhe envenenou a ideia. E, por isso, se excedeu mais com a boca do que com a mão. Obrigando-a a encerrar a matéria.
            Contudo, Jerônimo já tinha começado a manjar dos macetes da vida. Não se furtando, graças a isso, de colocar o “Plano B” em prática. Ao sugerir-lhe que o papo fosse desenvolvido em outro lugar.
            O que a levou, inicialmente, a lamentar o fato de ele não ter encontrado o que tanto procurava no rabo dela. E, depois, tentar dissuadi-lo da coisa, ao dizer que ele era um amor. Porém, um homem se faz com pelo na cara e pelo no cu.
            “Se você fosse sincera / Ô, ô, ô, ô, Aurora / Veja só que bom que era / Ô, ô, ô, ô, Aurora”, os bêbados cantarolavam, enquanto ela se foi; consumida pela multidão.
            Sem lhe dar a chance de ter uma réplica. Em que tinha a intenção de dizer que carecia de um barbeiro, para aparar as pontas da cabeleira que lhe encampava o rego.
            Sendo que tudo talvez pudesse ter sido menos constrangedor se ele não estivesse na mira do olhar reprovador de Valquíria.
            Valquíria que era sua professora de história. E que, como todo professor que se preze, dividia seu tempo entre reclamar do salário e “cagar regra”. Até se lembrando, às vezes, de lecionar. A menos, é claro, que isso não a impedisse de fumar um cigarro; ou dois.
            Ademais, ela se parecia com uma barata. Já que as grossas lentes dos seus óculos, que faziam seus olhos azuis ficarem maiores do que eram, não combinavam com sua fantasia rosada de fada.
            Não vendo, no entanto, que o halterofilista vestido de Tarzan, que lhe segurava a mão, estava com o “cipó” apontado para outra mulher.
            Quando, em meio a um coro que entoava “Chegou a turma do funil / Todo mundo bebe / Mas ninguém dorme no ponto / Ai, ai, ninguém dorme no ponto / Nós é que bebemos / E eles que ficam tontos”, Jacmel tomou o rumo da sua mesa.
            No caminho, vendo que Nadja estava grudada na boca de outro cara.
            O que o levou a pensar nas diatribes da vida. Dado que se ele saísse gritando que queria comer a mais peluda das bocetas, seria severamente surrado pelos seguranças. E o pior, terminaria a noite com uma enfermeira lésbica se vingando de Deus ao lhe enfiar, sem muito carinho, uma sonda no pau.
            No entanto, se uma mulher abrisse as pernas e dissesse: “Vem, que a vida é boa”, se formaria uma fila com homem, velho, criança, cachorro, sapatão, chipanzé e até um incauto, que estivesse esperando para confirmar o itinerário de um ônibus, para usufruir da promiscuidade da cuja.
            Ademais, Jerônimo alcançou a mesa. Onde notou que sua mãe estava alheia ao entorno. Posto que, como um suricato, ansiava pelo retorno do Senhor Jacmel.
            Que, provavelmente, como o Leão da Montanha, se aproveitou, como sempre, de uma piscadela dela, para tomar a “saída da esquerda” e se refugiar em que algum lugar, onde pudesse beber em paz.
            Então, Jerônimo encheu de cerveja um copo e se hidratou. Reparando que Nadja, com o ímpeto de um dentista, procurava por outra boca. E, por isso, entornou toda bebida, com o intento de colocar o Plano (cuja letra lhe escapara) em prática. Porém, cuspiu quase tudo na bunda de uma morena que, por azar, sambava diante dele, naquele instante. A qual, por conta disso, externou o seu descontentamento ao lhe mostrar o dedo médio e foi embora. Sem sequer dar-lhe a chance de pedir desculpa ou de dar uma justificativa. Dizendo que, na verdade, preferiria ter cuspido no rabo dela com o pau. E só o fizera com a boca, porque sua mãe lhe assustara com um berro. Dado que ela queria admoestá-lo, pois, não aprovava o fato de ele estar consumindo álcool.
            Mas, como Jacmel estava mais a fim de “comer um rabo” do que ter o “rabo comido”, ele logo voltou para o meio da folia.
            Onde se cantava: “As águas vão rolar / Garrafa cheia eu não quero ver sobrar / Eu passo a mão no saca, saca, saca-rolha / E bebo até me afogar”.
            E vagou por um trajeto relativamente fácil. Pois lhe bastou seguir a “rota das vadias”. Dado que passou por uma rês de mulheres que falava mais do que cantava. Das quais, algumas tinham resquícios de porra no canto da boca. E todas se referiam a Nadja como “é uma vadia”.
            Entretanto, por mais que as opiniões sobre a moça fossem desfavoráveis, para tristeza de Jacmel, ela tinha suas restrições. Das tais, ela o fez sabedor, ao dizer que ambos se conheciam desde que pirralhos eram e nem eram tão chegados assim.
            Logo, nada rolaria, se dependesse dela.
            Porém, no que dependia dele, “nada” não rolaria.
            E, por isso, ele propôs que colocassem as máscaras e se conhecessem como estranhos.
            O que funcionou!
            Já que, no campo das relações de cunho quase sexual, eles se desconheciam.
            E, nisso, ela gostou tanto de beijá-lo que, como uma sucuri, se enroscou no corpo dele.
            Entretanto, como no quesito “vadiagem” as mulheres “sérias” não queriam concorrência, Nadja sugeriu a Jerônimo que eles continuassem a se conhecer em outro canto.
            Mas onde?
            Qualquer um.
            Exceto o que ele propusera a Carmen. Já que, na opinião de Nadja, procurar pela despensa seria uma perda de tempo. Pois, àquela altura da noite, uma fila já teria se formado diante da porta dela.
            E assim, ao som de “Apareceu a Margarida / Olê, olê, olá / No festival / Veio pra se desfolhar / Neste carnaval”, o duo foi para o corredor que dava acesso aos banheiros.
            Onde deram prosseguimento a sua satisfação oral.
            Que atingiu um novo estágio, assim que ela se tornou agressiva.
            Deu um giro e o encostou contra a parede.
            Quando o Senhor Jacmel passou, a princípio, só observando a performance da dupla. E, em um segundo momento, se assustou, ao encontrar, dentro de um orifício da máscara, o olho do filho seu. O que o fez, num impulso de “pai coruja”, apontar para a bunda da cuja e acenar positivamente para Jerônimo.
            Jerônimo que, após seu pai se ir, passou a ter a intimidade violada apenas por Nadja. Que, com uma mão de urologista, passou a fazer uma devassa nas bolas dele.
            Porém, parou.
            E o fez, com a tensão da corrente de uma âncora, quando esta torna a embarcação imune à maré.
            Dizendo que, embora a pica dele não fosse de se desprezar, ela preferia perder a virgindade com um camarada que estava fazendo a mulherada coçar o grelo.
            Todavia, deixando Jacmel estupefato.
            Já que ele viu que a menor distância entre o seu falo e uma vagina desembocou em um beco sem saída.
            Quando um grupelho de alcoólatras passou cantando: “Já vejo o meu amor sorrindo / Ganhando aplausos da multidão / Sem saber que estão rolando / As lágrimas do meu coração”.
            E, assim que recobrou a razão (ou o que restava dela), Jerônimo viu que seus cálculos ainda prevaleciam.
            Mesmo que não a seu favor.
            Mas a favor (ou, na prática, à revelia) de Valquíria. Que, com seus vermelhos e lacrimosos olhos, o observava. E que, como que fugindo da sua realidade – que se personificava nele –, apressadamente, caminhou pelo corredor. Até se refugiar atrás da última porta que encontrou.
            Pela qual, pensando que se tratava de um banheiro feminino e sem pudor – já que supôs que o que ali encontrasse lhe serviria de bônus –, entrou.
            Porém, se equivocara.
            Pois se tratava da despensa.
            Onde, como uma cadela, que está prestes a virar sabão, Valquíria se via acossada.
            E, para a perplexidade de Jerônimo, ela respirou profundamente, endireitou a postura, se limpou das lágrimas e se despiu. Dizendo que precisava ensiná-lo a virar homem. Depois, deu meia-volta e se inclinou para frente; exibindo uma vulva, que se assemelhava a um botão de rosa entreaberto.
            Tudo porque a mulher possui um relógio biológico que lhe alerta quanto ao fim da vida útil do seu útero. Enquanto que o homem tem um barulhento despertador que o avisa de que sua vida sexual entrou em vigor.
            E ambos se encontraram na mesma hora e no mesmo carnaval.

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CUESTA VERDE / Jornalismo de Verdade 08 de julho de 2023