“Mamãe,
eu quero, mamãe, eu quero / Mamãe, eu quero mamar / Dá a chupeta, dá a chupeta
/ Dá a chupeta, pro bebê não chorar”, sob uma chuva de confetes e serpentinas,
era o que se cantava, quando, em companhia de seus pais, Jerônimo Jacmel ao salão
do Ilha Porchat Club adentrou.
Em
mente tento o intuito de desfrutar de “Uma Noite nos Mares do Sul”.
Um
evento que, naquela noite, poderia ter sido alcunhado de “Uma Noite nos Mares
do Hades”. Dado que o calor era tão intenso, que fazia até o Capeta transpirar.
Todavia,
com sentimentos conflitantes a nutrir, o trio caminhou, em busca da mesa de
número 15.
Já
que a mãe – que se trajava com um vestido com estampa de onça parda – queria
que o Senhor Jacmel com ela estivesse dormindo (de conchinha), na cama do seu
quarto.
O
pai – que se vestia de Zorro – desejava estar acordado com sua amante, no leito
de um motel.
E
Jerônimo – que se fantasiava de Cavaleiro Solitário – almejava estar distante
de ambos.
Tudo
porque a Senhora Jacmel – sem se importar com o vocabulário ou com quem
estivasse ao alcance dele – vociferava contra seu marido, a princípio, por
conta de qualquer coisa. Mas sempre ressaltando o fato de que não olhar para
uma bunda não o impedia de imaginar o “recheio” dela.
Sendo
que, assim, o trio chegou à mesa que lhes fora destinada.
Quando,
na voz dos foliões, ecoaram os seguintes versos: “Chiquita bacana / Lá da
Martinica / Se veste com uma casca / De banana nanica”.
E
na orelha do Senhor Jacmel, então, reverberaram os impropérios da sua esposa,
assim que, diante da mesa, Nadja passou.
Nadja
que era colega de escola de Jerônimo, desde que suas idades se restringiam a um
dígito.
“Um
dígito”, aliás, que nunca serviu de parâmetro para suas notas. Nunca menores do
que 10.
Que
sempre foi a medida de tudo em sua vida.
Incluindo
a forma de se vestir.
O
que, na ocasião, a pareava com uma legítima polaca.
Ademais,
dos tantos pares de nádegas que desfilavam diante dele, como em um rodízio de
carne, Jerônimo decidiu que um seria seu, ainda naquela noite. Senão pelo seu
talento como galanteador, pelo menos, por uma questão de aritmética. Já que,
visualmente, parecia ter mais cu do que pica, naquele salão. E, embora, nem
todo pinto procurasse por uma bunda, e toda bunda por um pinto, os glúteos estavam
em vantagem numérica.
Então,
enquanto seu pai brigava com sua mãe para poder usufruir de uma garrafa com
cerveja, ele foi para o meio da farra.
Onde,
com a astúcia de um “running back”, driblou cada qual que dançava e cantava:
“Tanto riso, oh, quanta alegria / Mais de mil palhaços no salão / Arlequim está
chorando pelo amor da Colombina / No meio da multidão”.
Assim,
passando por Nadja, que trocava beijos com um moleque da sua escola, por uma
mal-encarada mulher, que se cobria com uma fantasia de fada, que,
provavelmente, sobrara na arara de um brechó, e parando diante de uma clareira.
Onde
um cidadão apontava uma câmera, cuja forte luz agredia a vista dos
desorientados, para Carmen.
Carmen
que era a repórter de uma TV local.
E
ganhara notoriedade graças à sua assustadora beleza.
Com
seus dotes de beldade que, no entanto, potencializados eram por um fio dental e
um bustiê. Dos quais ela se valia da parte de cima para, com um movimento do
decote, hipnotizar o entrevistado. Enquanto, com a debaixo, o mantinha em
estado de torpor. Já que, a fim de que apenas o álcool lhe irrigasse a ideia,
fazia a outra cabeça latejar, ao deixá-lo se divertir com a bunda sua – como
que brincando de enfiar o rabo no burro. Com intuito de, no fim, lhe arrancar a
mais constrangedora confissão.
O
que, em um dado momento, até que funcionou.
Mas
não da forma que ela queria.
Já
que um sujeito lhe disse que tinha matado um cara. E, ao ser inquirido quanto à
veracidade da informação, concluiu dizendo que o matou com a coroa, depois de
ter jogado a moeda ao alto e ser traído pela sorte.
Quando
Jerônimo se aproveitou da bobeira de um dos “manguaceiros”, que esperava para
falar de alguma besteira, e se postou ao lado de Carmen. Dizendo que, após ter
passado, com louvor, por um rigoroso teste da NASA, ele teria a honra de ser o
primeiro corintiano a pisar em Marte.
Enquanto,
de um jeito que faria muito cego sentir inveja, perpetrava uma minuciosa
inspeção no rabo da cuja.
Só
não indo além, porque, em virtude da pouca idade, um misto de adrenalina com
testosterona lhe envenenou a ideia. E, por isso, se excedeu mais com a boca do
que com a mão. Obrigando-a a encerrar a matéria.
Contudo,
Jerônimo já tinha começado a manjar dos macetes da vida. Não se furtando, graças
a isso, de colocar o “Plano B” em prática. Ao sugerir-lhe que o papo fosse
desenvolvido em outro lugar.
O
que a levou, inicialmente, a lamentar o fato de ele não ter encontrado o que
tanto procurava no rabo dela. E, depois, tentar dissuadi-lo da coisa, ao dizer
que ele era um amor. Porém, um homem se faz com pelo na cara e pelo no cu.
“Se
você fosse sincera / Ô, ô, ô, ô, Aurora / Veja só que bom que era / Ô, ô, ô, ô,
Aurora”, os bêbados cantarolavam, enquanto ela se foi; consumida pela multidão.
Sem
lhe dar a chance de ter uma réplica. Em que tinha a intenção de dizer que
carecia de um barbeiro, para aparar as pontas da cabeleira que lhe encampava o
rego.
Sendo
que tudo talvez pudesse ter sido menos constrangedor se ele não estivesse na
mira do olhar reprovador de Valquíria.
Valquíria
que era sua professora de história. E que, como todo professor que se preze,
dividia seu tempo entre reclamar do salário e “cagar regra”. Até se lembrando,
às vezes, de lecionar. A menos, é claro, que isso não a impedisse de fumar um
cigarro; ou dois.
Ademais,
ela se parecia com uma barata. Já que as grossas lentes dos seus óculos, que
faziam seus olhos azuis ficarem maiores do que eram, não combinavam com sua
fantasia rosada de fada.
Não
vendo, no entanto, que o halterofilista vestido de Tarzan, que lhe segurava a
mão, estava com o “cipó” apontado para outra mulher.
Quando,
em meio a um coro que entoava “Chegou a turma do funil / Todo mundo bebe / Mas
ninguém dorme no ponto / Ai, ai, ninguém dorme no ponto / Nós é que bebemos / E
eles que ficam tontos”, Jacmel tomou o rumo da sua mesa.
No
caminho, vendo que Nadja estava grudada na boca de outro cara.
O
que o levou a pensar nas diatribes da vida. Dado que se ele saísse gritando que
queria comer a mais peluda das bocetas, seria severamente surrado pelos
seguranças. E o pior, terminaria a noite com uma enfermeira lésbica se vingando
de Deus ao lhe enfiar, sem muito carinho, uma sonda no pau.
No
entanto, se uma mulher abrisse as pernas e dissesse: “Vem, que a vida é boa”,
se formaria uma fila com homem, velho, criança, cachorro, sapatão, chipanzé e
até um incauto, que estivesse esperando para confirmar o itinerário de um
ônibus, para usufruir da promiscuidade da cuja.
Ademais,
Jerônimo alcançou a mesa. Onde notou que sua mãe estava alheia ao entorno.
Posto que, como um suricato, ansiava pelo retorno do Senhor Jacmel.
Que,
provavelmente, como o Leão da Montanha, se aproveitou, como sempre, de uma
piscadela dela, para tomar a “saída da esquerda” e se refugiar em que algum
lugar, onde pudesse beber em paz.
Então,
Jerônimo encheu de cerveja um copo e se hidratou. Reparando que Nadja, com o
ímpeto de um dentista, procurava por outra boca. E, por isso, entornou toda
bebida, com o intento de colocar o Plano (cuja letra lhe escapara) em prática.
Porém, cuspiu quase tudo na bunda de uma morena que, por azar, sambava diante
dele, naquele instante. A qual, por conta disso, externou o seu
descontentamento ao lhe mostrar o dedo médio e foi embora. Sem sequer dar-lhe a
chance de pedir desculpa ou de dar uma justificativa. Dizendo que, na verdade,
preferiria ter cuspido no rabo dela com o pau. E só o fizera com a boca, porque
sua mãe lhe assustara com um berro. Dado que ela queria admoestá-lo, pois, não
aprovava o fato de ele estar consumindo álcool.
Mas,
como Jacmel estava mais a fim de “comer um rabo” do que ter o “rabo comido”,
ele logo voltou para o meio da folia.
Onde
se cantava: “As águas vão rolar / Garrafa cheia eu não quero ver sobrar / Eu
passo a mão no saca, saca, saca-rolha / E bebo até me afogar”.
E
vagou por um trajeto relativamente fácil. Pois lhe bastou seguir a “rota das
vadias”. Dado que passou por uma rês de mulheres que falava mais do que
cantava. Das quais, algumas tinham resquícios de porra no canto da boca. E
todas se referiam a Nadja como “é uma vadia”.
Entretanto,
por mais que as opiniões sobre a moça fossem desfavoráveis, para tristeza de
Jacmel, ela tinha suas restrições. Das tais, ela o fez sabedor, ao dizer que
ambos se conheciam desde que pirralhos eram e nem eram tão chegados assim.
Logo,
nada rolaria, se dependesse dela.
Porém,
no que dependia dele, “nada” não rolaria.
E,
por isso, ele propôs que colocassem as máscaras e se conhecessem como
estranhos.
O
que funcionou!
Já
que, no campo das relações de cunho quase sexual, eles se desconheciam.
E,
nisso, ela gostou tanto de beijá-lo que, como uma sucuri, se enroscou no corpo
dele.
Entretanto,
como no quesito “vadiagem” as mulheres “sérias” não queriam concorrência, Nadja
sugeriu a Jerônimo que eles continuassem a se conhecer em outro canto.
Mas
onde?
Qualquer
um.
Exceto
o que ele propusera a Carmen. Já que, na opinião de Nadja, procurar pela
despensa seria uma perda de tempo. Pois, àquela altura da noite, uma fila já
teria se formado diante da porta dela.
E
assim, ao som de “Apareceu a Margarida / Olê, olê, olá / No festival / Veio pra
se desfolhar / Neste carnaval”, o duo foi para o corredor que dava acesso aos
banheiros.
Onde
deram prosseguimento a sua satisfação oral.
Que
atingiu um novo estágio, assim que ela se tornou agressiva.
Deu
um giro e o encostou contra a parede.
Quando
o Senhor Jacmel passou, a princípio, só observando a performance da dupla. E,
em um segundo momento, se assustou, ao encontrar, dentro de um orifício da
máscara, o olho do filho seu. O que o fez, num impulso de “pai coruja”, apontar
para a bunda da cuja e acenar positivamente para Jerônimo.
Jerônimo
que, após seu pai se ir, passou a ter a intimidade violada apenas por Nadja.
Que, com uma mão de urologista, passou a fazer uma devassa nas bolas dele.
Porém,
parou.
E
o fez, com a tensão da corrente de uma âncora, quando esta torna a embarcação
imune à maré.
Dizendo
que, embora a pica dele não fosse de se desprezar, ela preferia perder a
virgindade com um camarada que estava fazendo a mulherada coçar o grelo.
Todavia,
deixando Jacmel estupefato.
Já
que ele viu que a menor distância entre o seu falo e uma vagina desembocou em
um beco sem saída.
Quando
um grupelho de alcoólatras passou cantando: “Já vejo o meu amor sorrindo /
Ganhando aplausos da multidão / Sem saber que estão rolando / As lágrimas do
meu coração”.
E,
assim que recobrou a razão (ou o que restava dela), Jerônimo viu que seus
cálculos ainda prevaleciam.
Mesmo
que não a seu favor.
Mas
a favor (ou, na prática, à revelia) de Valquíria. Que, com seus vermelhos e
lacrimosos olhos, o observava. E que, como que fugindo da sua realidade – que
se personificava nele –, apressadamente, caminhou pelo corredor. Até se refugiar
atrás da última porta que encontrou.
Pela
qual, pensando que se tratava de um banheiro feminino e sem pudor – já que
supôs que o que ali encontrasse lhe serviria de bônus –, entrou.
Porém,
se equivocara.
Pois
se tratava da despensa.
Onde,
como uma cadela, que está prestes a virar sabão, Valquíria se via acossada.
E,
para a perplexidade de Jerônimo, ela respirou profundamente, endireitou a
postura, se limpou das lágrimas e se despiu. Dizendo que precisava ensiná-lo a
virar homem. Depois, deu meia-volta e se inclinou para frente; exibindo uma
vulva, que se assemelhava a um botão de rosa entreaberto.
Tudo
porque a mulher possui um relógio biológico que lhe alerta quanto ao fim da
vida útil do seu útero. Enquanto que o homem tem um barulhento despertador que
o avisa de que sua vida sexual entrou em vigor.
E
ambos se encontraram na mesma hora e no mesmo carnaval.