Em um final de semana de novembro, que fora prolongado por um dia de finados que ocorreu em plena quinta-feira, Jerônimo Jacmel e Amargo Camargo, seu amigo e parceiro de baladas, faculdade e um “gugol” de roubadas, resolveram entrar em uma “fria”.
Ou uma “quente”.
Contanto que escaldante não fosse.
Para tal, na Avenida Presidente Wilson, em Santos, eles entraram em um ônibus, cuja alcunha era “Terminal Peruíbe”.
E, contra a vontade de Jacmel, ocuparam os assentos que, apesar de separados pelo corredor, os deixavam ao lado de um sujeito alto e pálido – como um cadáver. Que olhava freneticamente para os flancos e transpirava abundantemente.
Todavia, Amargo nunca foi doce. E, além disso, se gabava de ter a fama de tirar o mais centrado do sério.
O que começou a fazer, ao deixar o cidadão mais transtornado do que já estava. Já que, enquanto Jerônimo apreciava a paisagem, que se deformava através da janela, ele invadia a privacidade do seu colega de viagem com um sorriso que beirava psicopatia.
Até que um “eu sou um lobisomem” o cujo disse. Tirando, em seguida, de um saco sujo, que carregava, uma mão, que, pelo cheiro e pela cor, há pouco se perdera do corpo seu. E, com a boca arreganhada, de forma equina, o maluco soltou um gemido, fez um movimento de “tchau” com o membro, que não era o seu, e o jogou no colo de uma distraída matrona, que estava ao lado.
A qual, assim que se ateve ao ocorrido, começou a guturalmente gritar.
Tanto que o motorista encostou o veículo em um acostamento, com o fim de ver o que acontecia.
Porém, o “pazzo” passou por cima da histérica, que não parava de berrar, e saltou pela janela da condução. Deixando um nauseante cheiro acre para trás.
Ademais, a mulher, que, a despeito da sua idade, parecia ter menstruado, já que os líquidos que da mão escorriam deixaram-lhe uma rubra nódoa sobre o vestido, pegou o membro e o jogou ao chão.
Todavia, Amargo a pegou, com o papo de que era de borracha, e, com a justificativa de que nunca se sabe qual é o momento em que se precisará de uma mãozinha, o guardou em um compartimento da mochila que portava.
Mas será que, em Santos, haveria algum cidadão a procura de uma mão?
Ou será que ela era o que sobrou da refeição do lobisomem?
Seja como for, assim que a torre da Paróquia Nossa Senhora do Sião apareceu no horizonte, eles souberam que o destino se materializara.
E, assim que saltaram do transporte, cruzaram a passarela, que passava por cima da movimentada estrada, e entraram em Suarão.
Por onde seguiram pela trilha do rock.
Dado que a nova geração de turistas cultivava um estilo de vida em que se abominava tudo que não estivesse ligado à joia da música norte-americana.
Com isso, personalizando as ruas da região com as diversas variações do ritmo.
E, por isso, o duo se guiou por um mapa sensorial; transitando pelo Punk Rock, pelo Iê-Iê-Iê, o Heavy Metal e o Power Flower.
Então, passaram pelo portão, atravessaram o quintal, que carecia de uma poda, e, enfim, entraram na casa, que, comumente, alugavam.
Lá, Amargo ligou a geladeira e colocou a mão no congelador. Depois, tirou da mochila três pacotes dourados de Kopi Luwak.
Dos quais, dois ele guardou no armário.
Enquanto um ele abriu e o peneirou para dentro de um pote de tupperware; separando cinco cigarros de maconha, que estavam embrulhados em uma embalagem plástica.
Descartando dois; que deu ao amigo.
Ademais, Jerônimo pegou um carrinho para feira, que estava encostado em um canto, e foi comprar cerveja.
Enquanto isso, Amargo foi atrás de um cavalo que ouvira relinchar.
E voltou com um pangaré; que deixou no jardim, a banquetear.
Após o ocaso, o duo foi para o Quiosque do Chinesinho.
De onde se via as cristas brancas brotarem do breu e darem desfecho ao trovejar das ondas.
Então, eles se sentaram junto a uma mesa, pediram uma porção de frango xadrez e brindaram com canecas cheias de chope do tipo Stout.
Ademais, na mesa ao lado, havia uma atraente mulher, cujas raízes brancas mostravam que o seu cabelo carecia de um retoque, se servindo do conhaque que repousava em um cálice e fumando continuamente. Tanto que os últimos cigarros da sua carteira estavam enterrados em um cinzeiro imundo. Que, com um gesto rompante, deixou de lado, como tudo em sua vida, para pegar o celular e ligar para um presumível amásio.
O qual, provavelmente, justificou o atraso de forma prolixa.
Posto que ela encerrou a ligação com a seguinte indagação: “Por acaso, o seu pinto ainda está dentro da sua calça ?”
Então, Amargo e Jerônimo a viram desligar o aparelho, o colocar, com mais força do pretendia, sobre a mesa e, com seus grandes olhos azuis, olhá-los, atentamente. E, com os pequenos lábios, onde o avermelhado do batom se confundia com a tonalidade que a tez tomou, inquiri-los sobre a razão do ciúme que sentia a deixá-la excitada.
O que Amargo esclareceu, ao afirmar que ela tinha vocação para corna. Sugerindo-lhe, em seguida, que para que a lubrificação ficasse no vão, e não, em vão, ela se aliviasse com eles.
Uma ideia que, depois de um gole, ela acatou.
Só que com um por vez.
Afinal, não era uma cadela.
Se bem que, pelo que se sabe, ninguém jamais viu uma cachorra “rebocando” mais do que um cachorro, ao mesmo tempo.
Porém, Jerônimo deixou claro que, por uma questão de higiene, se um ficasse com “proa”, o outro ficaria com a “popa”.
E ela o advertiu de que era apertadinha; e, por isso, transpirava um pouco, antes de relaxar. A isso acrescendo que, também, não teria outro jeito. Pois, em função de uma raspagem, o seu 03º molar inferior esquerdo estava sensível; deixando a sua sucção comprometida.
Ademais, após uma vitória, por 02 a 01, no jogo de “Pedra, Papel e Tesoura”, Amargo com ela ao banheiro foi.
Com a opção de lhe comer a boceta.
Quando um som de pneu freando chamou a atenção dos presentes.
E um sujeito esbaforido e sem camisa entrou no estabelecimento. Olhando, sem disfarçar a perturbação, para todos os cantos. Até que, sobre a mesa ao lado da de Jerônimo, viu um cálice de conhaque e um cinzeiro sujo. Para os lados, novamente, olhou e a Jerônimo perguntou se, por acaso, havia uma morena clara naquele local.
Ao que Jerônimo assentiu. Dizendo, com uma riqueza desnecessária de detalhes, que ela estava nervosa. Quiçá, propensa a um ato de “auto-hostilidade”. E que, na tentativa de não fazer alguma besteira, aceitou o convite de um crioulo, que, com certeza, não era um cristão, para enxugar as lágrimas no bar de um português, lá em Itanhaém.
Sem mais (e sem agradecê-lo), o cidadão, com a expectativa de que dormiria sem um par de chifres na testa, saiu dali correndo.
Então, uma poluição sonora – causada pela soma do ronco de um motor com o cantar dos pneus – surgiu e, logo, se silenciou.
E, dentro de um curto espaço de tempo, Amargo saiu do banheiro e, ao lhe dar um tapa na mão, como em um lance de luta-livre, lhe passou a vez.
Na manhã seguinte, Amargo soltou o quadrúpede foi à padaria, com o fim de adquirir uns gostosos pãezinhos.
E, nesse interim, Jerônimo preparou o famoso café Geraldo.
Em que, sobre o pó, que está assentado no coador, se joga a água quente, em sentido anti-horário, fazendo-o borbulhar por um único orifício; como se estivesse peidando.
Então, antes que a preguiça se apropriasse da sua alma, ele se valeu de uma árvore para alcançar o telhado da casa. Onde estirou uma toalha e retocou o bronzeado, enquanto dava um “tapa na macaca”.
O que, de longe, dava a impressão de que a casa possuía uma chaminé.
Quando ele olhou para o quintal da residência ao lado e achou que havia ocorrido uma festa junina, fora de época, por lá.
Já que um cordão cheio de bandeirinhas o cortava.
E, a fim de se certificar de que realmente via o que via, ergueu os óculos escuros e se ateve ao fato de que o seu discernimento não estava funcionando direito.
O que o levou a olhar para o fumo e pensar: “Bagulho bom”.
Depois, a fim de se certificar de que não via mais do via, se concentrou e notou que as bandeirinhas não eram bandeirinhas. E sim, calcinhas.
Das quais, uma suculenta mulher nua, que saiu da casa, pegou uma peça vermelha e a calçou.
Doravante, o duo forrou o estômago com pão com manteiga e um Kopi Luwak Geraldo.
E, em seguida, para a praia foi.
Onde caminharam, nadaram e secaram ao Sol.
Sendo que, por todo lado, mulheres praticavam o top-less; outras, mais desinibidas, efetuavam o down-less; e algumas, totalmente despudoradas, perambulavam completamente peladas.
Com o adendo de que as últimas eram seguidas por varões, cujos pensamentos podiam ser facilmente decifrados. Já que, por estarem igualmente nus, não tinham como ocultar o tipo de interesse que nutriam por elas.
Ademais, e a despeito disso e do fato de que não tinham nada para fazer, a dupla se engajou em um passatempo que o pai de Jerônimo lhes ensinara: avaliar bundas.
Com cada qual cantando uma nota, de 01 a 10, para cada traseiro que lhes surgisse ante a fuça.
Mas que, na prática, gerava menos consenso do que desavença. Dado que, ao justificá-las, se baseavam em critérios particulares.
Pois, ao contrário de Amargo, Jacmel achava que um risco sobre o rabo não o qualificava como uma bunda. E que, a partir daí, uma bunda só seria considerada feia quando fosse capaz de desacatar qualquer patente.
Enquanto que, quanto ao que lhe era “excelsior”, Camargo discordava de Jerônimo. Pois dizia que não existia uma bunda perfeita. Já que toda bunda, por mais formosa que seja, tem sempre um buraco no meio.
Todavia, depois de quase arranjarem briga com uma gorda que, acidentalmente, ouviu Amago dizer que da bunda dela a merda precisaria de um habeas corpus para sair, eles foram para o Quiosque do Chinesinho.
Onde se nutriram com uma porção de lombo de porco agridoce, enquanto lavavam o bico com uma IPA de Paranapiacaba.
Quando, em um improvisado palco, Don Blanquito começou a cantar uma paródia de “La Bamba”, que se chamava “La Bunda”. E que em cujos versos dizia: “ “Quero comer uma bunda / Quero comer uma bunda / Uma bunda legal / Uma bunda legal / Com o meu pau / Arromba a bunda / Arromba a bunda”.
Enquanto isso, sob o reprovador olhar da esposa, o Chinesinho organizava uma algazarra. Promovendo o concurso de “Miss Fofão”. Que consistia em premiar com uma garrafa de Maotai a dona da vagina mais “bochechuda” da paróquia.
Sendo que, para tal, cada postulante desfilava pelo estabelecimento e esperava pelos aplausos.
Dos quais, o Chinesinho só contava os dos pelados que ficassem de pé. Já que, só assim, todos poderiam ter ciência da sinceridade de quem se manifestava.