Reclame 001

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

AS GAROTAS DA CASA AO LADO

            Em um final de semana de novembro, que fora prolongado por um dia de finados que ocorreu em plena quinta-feira, Jerônimo Jacmel e Amargo Camargo, seu amigo e parceiro de baladas, faculdade e um “gugol” de roubadas, resolveram entrar em uma “fria”.

            Ou uma “quente”.

            Contanto que escaldante não fosse.

            Para tal, na Avenida Presidente Wilson, em Santos, eles entraram em um ônibus, cuja alcunha era “Terminal Peruíbe”.
            E, contra a vontade de Jacmel, ocuparam os assentos que, apesar de separados pelo corredor, os deixavam ao lado de um sujeito alto e pálido – como um cadáver. Que olhava freneticamente para os flancos e transpirava abundantemente.
            Todavia, Amargo nunca foi doce. E, além disso, se gabava de ter a fama de tirar o mais centrado do sério.
            O que começou a fazer, ao deixar o cidadão mais transtornado do que já estava. Já que, enquanto Jerônimo apreciava a paisagem, que se deformava através da janela, ele invadia a privacidade do seu colega de viagem com um sorriso que beirava psicopatia.
            Até que um “eu sou um lobisomem” o cujo disse. Tirando, em seguida, de um saco sujo, que carregava, uma mão, que, pelo cheiro e pela cor, há pouco se perdera do corpo seu. E, com a boca arreganhada, de forma equina, o maluco soltou um gemido, fez um movimento de “tchau” com o membro, que não era o seu, e o jogou no colo de uma distraída matrona, que estava ao lado.
            A qual, assim que se ateve ao ocorrido, começou a guturalmente gritar.
            Tanto que o motorista encostou o veículo em um acostamento, com o fim de ver o que acontecia.
            Porém, o “pazzo” passou por cima da histérica, que não parava de berrar, e saltou pela janela da condução. Deixando um nauseante cheiro acre para trás.
            Ademais, a mulher, que, a despeito da sua idade, parecia ter menstruado, já que os líquidos que da mão escorriam deixaram-lhe uma rubra nódoa sobre o vestido, pegou o membro e o jogou ao chão.
            Todavia, Amargo a pegou, com o papo de que era de borracha, e, com a justificativa de que nunca se sabe qual é o momento em que se precisará de uma mãozinha, o guardou em um compartimento da mochila que portava.

            Mas será que, em Santos, haveria algum cidadão a procura de uma mão?
            Ou será que ela era o que sobrou da refeição do lobisomem?

            Seja como for, assim que a torre da Paróquia Nossa Senhora do Sião apareceu no horizonte, eles souberam que o destino se materializara.

            E, assim que saltaram do transporte, cruzaram a passarela, que passava por cima da movimentada estrada, e entraram em Suarão.
            Por onde seguiram pela trilha do rock.

            Dado que a nova geração de turistas cultivava um estilo de vida em que se abominava tudo que não estivesse ligado à joia da música norte-americana.
            Com isso, personalizando as ruas da região com as diversas variações do ritmo.

            E, por isso, o duo se guiou por um mapa sensorial; transitando pelo Punk Rock, pelo Iê-Iê-Iê, o Heavy Metal e o Power Flower.
            Então, passaram pelo portão, atravessaram o quintal, que carecia de uma poda, e, enfim, entraram na casa, que, comumente, alugavam.

            Lá, Amargo ligou a geladeira e colocou a mão no congelador. Depois, tirou da mochila três pacotes dourados de Kopi Luwak.
            Dos quais, dois ele guardou no armário.
            Enquanto um ele abriu e o peneirou para dentro de um pote de tupperware; separando cinco cigarros de maconha, que estavam embrulhados em uma embalagem plástica.
            Descartando dois; que deu ao amigo.

            Ademais, Jerônimo pegou um carrinho para feira, que estava encostado em um canto, e foi comprar cerveja.

            Enquanto isso, Amargo foi atrás de um cavalo que ouvira relinchar.

            E voltou com um pangaré; que deixou no jardim, a banquetear.

            Após o ocaso, o duo foi para o Quiosque do Chinesinho.
            De onde se via as cristas brancas brotarem do breu e darem desfecho ao trovejar das ondas.
            Então, eles se sentaram junto a uma mesa, pediram uma porção de frango xadrez e brindaram com canecas cheias de chope do tipo Stout.
            Ademais, na mesa ao lado, havia uma atraente mulher, cujas raízes brancas mostravam que o seu cabelo carecia de um retoque, se servindo do conhaque que repousava em um cálice e fumando continuamente. Tanto que os últimos cigarros da sua carteira estavam enterrados em um cinzeiro imundo. Que, com um gesto rompante, deixou de lado, como tudo em sua vida, para pegar o celular e ligar para um presumível amásio.
            O qual, provavelmente, justificou o atraso de forma prolixa.
            Posto que ela encerrou a ligação com a seguinte indagação: “Por acaso, o seu pinto ainda está dentro da sua calça ?”
            Então, Amargo e Jerônimo a viram desligar o aparelho, o colocar, com mais força do pretendia, sobre a mesa e, com seus grandes olhos azuis, olhá-los, atentamente. E, com os pequenos lábios, onde o avermelhado do batom se confundia com a tonalidade que a tez tomou, inquiri-los sobre a razão do ciúme que sentia a deixá-la excitada.
            O que Amargo esclareceu, ao afirmar que ela tinha vocação para corna. Sugerindo-lhe, em seguida, que para que a lubrificação ficasse no vão, e não, em vão, ela se aliviasse com eles.
            Uma ideia que, depois de um gole, ela acatou.
            Só que com um por vez.
            Afinal, não era uma cadela.

            Se bem que, pelo que se sabe, ninguém jamais viu uma cachorra “rebocando” mais do que um cachorro, ao mesmo tempo.

            Porém, Jerônimo deixou claro que, por uma questão de higiene, se um ficasse com “proa”, o outro ficaria com a “popa”.
            E ela o advertiu de que era apertadinha; e, por isso, transpirava um pouco, antes de relaxar. A isso acrescendo que, também, não teria outro jeito. Pois, em função de uma raspagem, o seu 03º molar inferior esquerdo estava sensível; deixando a sua sucção comprometida.
            Ademais, após uma vitória, por 02 a 01, no jogo de “Pedra, Papel e Tesoura”, Amargo com ela ao banheiro foi.
            Com a opção de lhe comer a boceta.
            Quando um som de pneu freando chamou a atenção dos presentes.
            E um sujeito esbaforido e sem camisa entrou no estabelecimento. Olhando, sem disfarçar a perturbação, para todos os cantos. Até que, sobre a mesa ao lado da de Jerônimo, viu um cálice de conhaque e um cinzeiro sujo. Para os lados, novamente, olhou e a Jerônimo perguntou se, por acaso, havia uma morena clara naquele local.
            Ao que Jerônimo assentiu. Dizendo, com uma riqueza desnecessária de detalhes, que ela estava nervosa. Quiçá, propensa a um ato de “auto-hostilidade”. E que, na tentativa de não fazer alguma besteira, aceitou o convite de um crioulo, que, com certeza, não era um cristão, para enxugar as lágrimas no bar de um português, lá em Itanhaém.
            Sem mais (e sem agradecê-lo), o cidadão, com a expectativa de que dormiria sem um par de chifres na testa, saiu dali correndo.
            Então, uma poluição sonora – causada pela soma do ronco de um motor com o cantar dos pneus – surgiu e, logo, se silenciou.
            E, dentro de um curto espaço de tempo, Amargo saiu do banheiro e, ao lhe dar um tapa na mão, como em um lance de luta-livre, lhe passou a vez.

            Na manhã seguinte, Amargo soltou o quadrúpede foi à padaria, com o fim de adquirir uns gostosos pãezinhos.

            E, nesse interim, Jerônimo preparou o famoso café Geraldo.

            Em que, sobre o pó, que está assentado no coador, se joga a água quente, em sentido anti-horário, fazendo-o borbulhar por um único orifício; como se estivesse peidando.

            Então, antes que a preguiça se apropriasse da sua alma, ele se valeu de uma árvore para alcançar o telhado da casa. Onde estirou uma toalha e retocou o bronzeado, enquanto dava um “tapa na macaca”.

            O que, de longe, dava a impressão de que a casa possuía uma chaminé.

            Quando ele olhou para o quintal da residência ao lado e achou que havia ocorrido uma festa junina, fora de época, por lá.
            Já que um cordão cheio de bandeirinhas o cortava.
            E, a fim de se certificar de que realmente via o que via, ergueu os óculos escuros e se ateve ao fato de que o seu discernimento não estava funcionando direito.
            O que o levou a olhar para o fumo e pensar: “Bagulho bom”.
            Depois, a fim de se certificar de que não via mais do via, se concentrou e notou que as bandeirinhas não eram bandeirinhas. E sim, calcinhas.
            Das quais, uma suculenta mulher nua, que saiu da casa, pegou uma peça vermelha e a calçou.

            Doravante, o duo forrou o estômago com pão com manteiga e um Kopi Luwak Geraldo.

            E, em seguida, para a praia foi.

            Onde caminharam, nadaram e secaram ao Sol.

            Sendo que, por todo lado, mulheres praticavam o top-less; outras, mais desinibidas, efetuavam o down-less; e algumas, totalmente despudoradas, perambulavam completamente peladas.
            Com o adendo de que as últimas eram seguidas por varões, cujos pensamentos podiam ser facilmente decifrados. Já que, por estarem igualmente nus, não tinham como ocultar o tipo de interesse que nutriam por elas.

            Ademais, e a despeito disso e do fato de que não tinham nada para fazer, a dupla se engajou em um passatempo que o pai de Jerônimo lhes ensinara: avaliar bundas.
            Com cada qual cantando uma nota, de 01 a 10, para cada traseiro que lhes surgisse ante a fuça.
            Mas que, na prática, gerava menos consenso do que desavença. Dado que, ao justificá-las, se baseavam em critérios particulares.
            Pois, ao contrário de Amargo, Jacmel achava que um risco sobre o rabo não o qualificava como uma bunda. E que, a partir daí, uma bunda só seria considerada feia quando fosse capaz de desacatar qualquer patente.
            Enquanto que, quanto ao que lhe era “excelsior”, Camargo discordava de Jerônimo. Pois dizia que não existia uma bunda perfeita. Já que toda bunda, por mais formosa que seja, tem sempre um buraco no meio.

            Todavia, depois de quase arranjarem briga com uma gorda que, acidentalmente, ouviu Amago dizer que da bunda dela a merda precisaria de um habeas corpus para sair, eles foram para o Quiosque do Chinesinho.
            Onde se nutriram com uma porção de lombo de porco agridoce, enquanto lavavam o bico com uma IPA de Paranapiacaba.
            Quando, em um improvisado palco, Don Blanquito começou a cantar uma paródia de “La Bamba”, que se chamava “La Bunda”. E que em cujos versos dizia: “ “Quero comer uma bunda / Quero comer uma bunda / Uma bunda legal / Uma bunda legal / Com o meu pau / Arromba a bunda / Arromba a bunda”.
            Enquanto isso, sob o reprovador olhar da esposa, o Chinesinho organizava uma algazarra. Promovendo o concurso de “Miss Fofão”. Que consistia em premiar com uma garrafa de Maotai a dona da vagina mais “bochechuda” da paróquia.
            Sendo que, para tal, cada postulante desfilava pelo estabelecimento e esperava pelos aplausos.
            Dos quais, o Chinesinho só contava os dos pelados que ficassem de pé. Já que, só assim, todos poderiam ter ciência da sinceridade de quem se manifestava.
            Quando Jacmel notou que Camargo, atentamente, olhava para o lado seu. E, ao acompanhá-lo, se deparou com o Lobisomem.
            O qual, sentado junto a uma mesa, transpirava torrencialmente e os encarava com um considerável decréscimo de amabilidade. Alternando instantes de intensa tremedeira com momentos em que se controlava e apenas piscava com o olho esquerdo.
            Não bastando isso, junto à mesa que ficava ao lado de Camargo se sentou o corno da noite anterior.
            Sendo que o fez ostentando uma panca que chifrudo algum tem moral para demonstrar. Pois dizia, com um tom de cólera, ter falando com sua namorada. E dela ter escutado que apenas uma parte do que Jerônimo lhe falara era verdade. Ressaltando que nela constava a inexistência do tal crioulo. O que, para o seu governo, lhe dava o direito de inquirir-lhes sobre a identidade do “neguinho” que estaria por trás do “negão”.
            Com tal que, na esteira das indagações, o Lobisomem lhes perguntou daquela mão. Que, com uma dose de sentimentalismo, dizia ter pertencido a uma pessoa muito especial. E, por isso, queria comer o que faltava dela.
            Entretanto, o corno só captou o desfecho da informação: “... comer o que faltava dela”.

            Bem... Certa vez, um velho deitado chinês disse: “Para bom entendedor, meia palavra basta”.
            Contudo, a coisa, talvez, desande quando o termo é “bunda”.
            Já que a distância entre “eunuco” e “eu no cu” se encurta.

            Com isso, fazendo o corno crer que estava diante homem que nivelou as coisas entre ele e a parceira.
            O que os levou às “vias de fato”.

            Na manhã seguinte, sobre o telhado, Jerônimo “acariciava a macaca” e apreciava a paisagem.

            O que, de longe, dava a impressão de que um índio se comunicava com seus convivas.

            Quando, na casa ao lado, uma moça, que não era a outra, chegou carregando uma sacola quadrada e um saco pardo de papel.

            E, coincidentemente, Amargo também chegou. Só que, ao contrário da vizinha, que carregava um saco, ele portava dois. Um cheio de pães e outro repleto de esperma.

            Tudo porque, segundo relatou durante o desjejum, ele estava atrás de uma moça, na padaria. A qual, após um minucioso, porém, apenas empírico, exame, qualificou com a nota 09. Todavia, também a vendo pegar com a atendente, com quem tinha alguma intimidade, os pães e uma sacola. E, pelo que pode ouvir da conversa entre elas, continha um tabuleiro Ouija. Que pretendia consultar após o ocaso.

            Sem mais, com o fim de traçar um plano, o duo para a praia foi.

            Onde começaram com o esclarecimento de certos aspectos: como “quem comeria quem” e “como alguém não ficaria sem comer ninguém”. Até colocando coisas banais, como o tipo de lençol que deveria forrar a cama, em pauta.

            Afinal, o som de um pano rasgando, na hora de uma eventual reentrada, poderia ser mal interpretada.

            E ninguém aprecia uma flatulência.

            Principalmente, na cama.

            Então, ao tema acresceram ideias sofisticadas: como a deixa para saberem que as personalidades delas foram detectadas.
            Donde saberiam quem passaria a ser o “tira bom” e quem seria o “tira ruim”.
            E que se daria quando Amargo perguntasse pelo tipo de cerveja que a noite pedia.

            “Uma Ale ou uma Weiss?”

            Já que a Ale representava o Hades e a Weiss o nirvana.

            Ademais, enquanto as nuvens manchavam o céu, as pessoas esperavam pela onda branca.
            Posto que, de costas para o oceano, uma legião de homens se masturbava, sem forçar a cabeça.
            Já que uma infinidade de mulheres estava deitada na areia.
            Uma mais arreganhada do que a outra.
            Principalmente, algumas que, de tão mocreias, só sabiam que tinha um homem trabalhando dentro delas quando iam ao ginecologista. E, por isso, arregaçavam a “chana”, ao limite da elasticidade, para que, em um lance de sorte para elas, e de azar para a posteridade, o destino lhes premiasse com um moleque.
            Quando, do alto da cadeira guardião, como um Maestro de Netuno, o Guarda Vidas, que reagia o evento, gritou: “Onda!”
            E os machos logo gozaram. Batizando a onda que, com uma densa e viscosa espuma, banhou as banhistas.
            O que foi fortemente ovacionado pelos presentes.
            Exceto por dois pescadores, que xingavam sem parar. Já que se queixavam do fato de que não tinham ideia do tipo de “nhaca” encontrariam dentro das garoupas ou na pele das garotas.
            Quando uma gelada chuva chegou.
            E, em busca de um gelado chope, ao Quiosque do Chinesinho o duo foi.

            Onde, junto ao balcão, esperaram pelas bebidas.
            Que demorava, pois, a esposa do Chinesinho se atrapalhava na hora de tirar cada um. Visto que, ao finalizar, errava na medida do colarinho. Então, o corrigia com a espátula e colocava mais espuma do que devia; em um moto-contínuo.
            Tudo porque o Chinesinho, que estava com dois curativos sobre a sutura que lhe remendava o supercilio, dava prosseguimento ao concurso de Miss Fofão. Entregando a garrafa de Maotai à moça que tinha os pelos pubianos aparados como um perfeito cavanhaque. Cuja ponta do triângulo invertido ocultava a fenda que dividia o sumarento clitóris.
            Quando, enfim, a esposa do Chinesinho colocou duas canecas cheias de Witbier à disposição dos dois. Que brindaram e se refrescaram com a leitosa bebida. E que, ao pousarem-nas sobre as suas respectivas bolachas, quase foram acometidos e um, em comum, enfarte. Pois o Lobisomem os observava.
            O qual, exibindo os salientes caninos, com um tom impositivo, lhes reivindicou a mão.
            Porém, o assunto não evoluiu.
            Posto que o corno, que estava mais quebrado do que arroz de terceira, entrou em cena. E chegou acompanhado de dois estivadores, que, se soubessem que estavam ali para defender os “chifres” do dito, teriam ido beber cachaça em alguma padaria.
            Contudo, a troica se formou quando o Chinesinho, que cuspia fogo pelos olhos, se juntou a eles. Tendo consigo vários membros da gangue Wing Wong.
            Um séquito de asiáticos vestidos de negro e, aparentemente, pouco propenso à paz. Já que os tais estavam armados até os dentes. E, por isso, não precisaram esperar pelo fim do estopim para darem início a um conflito.

            Todavia, enquanto a coisa virava uma carnificina, Jacmel e Camargo beberam, pagaram a conta e foram ingerir a saideira em outro lugar.

            Para tal, indo ao Bar da Julia.

            Onde se sentaram junto a uma mesa e forraram o estômago com uma porção de cubos de bacon empanados. Tirando a gordura da boca com uma Red Ale.
            Mas não sem, antes, terem reparado que, desde a última visita que fizeram ao estabelecimento, algo destoava dentre as armas que decoravam a parede. Já que o tacape e o trabuco estavam em ordem. A peixeira e o porrete se encontravam em plena normalidade. E, do machado e o machete, o segundo tinha nódoas de sangue.
            O que Julia esclareceu, enquanto lhes servia um copo para aperitivo com canelinha. Contado, enquanto segurava o cigarro no canto da boca e soltava fumaça pelas narinas, que um amigo o pedira emprestado, para matar um veado, em Santos.
            Mas ela achava que tinha sido uma mulher.

            Afinal, veado tem sangue rosa.

            E, então, voltou para trás do balcão.
            Sobre o qual havia duas raquetes de frescobol e uma bola de tênis.
            Tendo, à frente dele, um rapaz que falava pelos cotovelos, sem se importar com o interesse que os outros poderiam ter (e não tinham) pelos seus argumentos. Sendo que, dentre os quais, enquanto bebia cerveja fajuta em copo americano, ressaltava o fato de que só gostava de frequentar “botecão”.
            Todavia, junto a ele estava uma garota com jeito de vadia que, por meio de um canudo com motivos de pirulito, ingeria uma “caipirosca” de kiwi e não dava trela para uma das palavras que ele proferia.
            Quando um bebum, que ora era vesgo e ora era estrábico – talvez, por causa do “mé”, ou, quiçá, por outra indecifrável razão –, se aproximou do balcão e pediu uma onça de canelinha.
            E Julia, que não desgrudava as iradas vistas dele, colocou sobre o balcão um copo para aperitivo, pegou um galão, tirou a rolha e, praticamente, “urinou” a emulsão, ao entorná-la no recipiente.
            Então, o pinguço tomou um gole e, para a completa irritação de Julia, cuspiu-o no chão do bar. Pediu perdão para o céu e sujou um pouco mais do assoalho com a dose que devia ao santo. E, sem mais, tomou outro gole, cuspiu, novamente, e solicitou um limão.
            Que lhe foi negado pela dona do estabelecimento. A qual tinha a intenção de mandá-lo introduzir o fruto no orifício anal. Mas, com receio de que ele acatasse sua sugestão, só lhe disse que não se bebe canelinha com limão.

            Afinal, aquilo não era chá.

            Fora o fato de que ela, também, não queria ter que limpar o resultado de um eventual revertério.

            Entretanto, o manguaceiro não se deu por vencido. E, para tal, da parede, então, tomou o machete... Do casal, que se afastou, a bola... E, com um golpe certeiro, partiu-a ao meio. Deixando a arma branca cravada na fórmica do balcão.
            Quando o silêncio que calou o local foi quebrado pela metade da bola que caiu ao chão.
            Sem mais, o coió pegou a que ficou ao seu alcance, espremeu-a sobre o copo e a jogou pela porta.
            Atingindo um cão, que fugiu uivando.
            Então, o cujo tomou um gole, cuspiu, de novo, e pediu outro limão a Julia. Posto que aquele não estava bom.

            Ademais, o correr das horas obumbrou a paisagem.

            E o duo, então, voltou para a base.

            Onde Amargo se banhou com ervas e vestiu uma camisa a lá Magnum.

            Enquanto Jerônimo aparou a barba, tomou um banho, passou uma colônia de alfazema, que o fez espirrar, até que o teor se abrandasse, e se cobriu com uma camisa, que, tranquilamente, poderia ter estado no guarda-roupa do Gil Gomes.

            Então, o duo manteve o cisma.

            Pois Jerônimo foi munir a geladeira com garrafas cheias de cerveja.

            Enquanto que Amargo colocou sobre o mármore negro da bancada da pia uma tábua para carnes e, sobre ela, para descansar, o salmão que convenceu Julia a lhe vender. Então, pôs uma panela sobre o fogão, acendeu o fogo, que deixou baixo, encheu-a com três litros de água, pedras esterilizadas, que tirou de uma tupperware, – com o fim de lhes extrair os minerais –, mais alho, batata, cebola branca, cenoura, coentro e salsinha. Depois, pegou o peixe, descamou-o e o limpou pela guelra; mantendo a integridade do bicho.

            Por fim, o cujo deixou a residência, atravessou a rua, cruzou a linha do trem, passou por outra rua e se posicionou junto a uma árvore. Então, fez o caminho quase inverso, com o olhar. Posto que parou na casa ao lado.

            De onde, por entre os cobogós ripados do muro escapava uma iluminação que foi substituída por uma pequena e cintilante luz. Que, logo, se multiplicou.

            Sem mais, Amargo acendeu, demoradamente, o cigarro e para linha do trem caminhou.

            Então, Jerônimo, que estava sentado junto à mesa da varanda, apagou o cigarro, bebeu mais um gole de cerveja e entrou.

            À geladeira foi, abriu o freezer e, em função dos vermes que saíam da mão, concluiu que aquele compartimento não funcionava corretamente. Por isso, pegou um saco plástico, enfiou-lhe a mão – como se fora uma luva – e a apanhou.

            Consequentemente, ele saiu da casa, se deteve no jardim, onde encheu o bolso com pedras e, com a ginga de um ressabiado chipanzé, trepou no telhado.

            De lá, esperou Amargo se encostar junto ao muro da casa ao lado e se posicionou como um gato. Então, com a perícia de um pitcher, ele arremessou a mão para dentro da varanda da residência próxima.

            Quando um “O que foi isso?”, por duas vezes, se perdeu na imensidão da noite.

            Jerônimo, então, com a desconfiança que lhe era peculiar, olhou para os lados, a fim de se certificar de que ninguém (especialmente, o Lobisomem) estivesse a espreitá-lo. E, ao se sentir seguro, deu seguimento à missão. Atirando, a granel, as pedras sobre o telhado de suas vizinhas.

            Até que, finalmente, as duas saíram atabalhoadas e discutindo muito. Com cada qual expondo os prós e os contras da ideia de brincar com um tabuleiro Ouija. Porém, de uma conclusão se mantendo aquém. Já que, no ponto alto do debate – quando mensuraram o quanto de ficção existia na sina de Regan MacNeil –, elas se depararam com a mão e, aos berros, correram para a rua.

            E, enquanto elas relatavam a Amargo o acontecido, Jerônimo desceu, refrescou o paladar com um novo gole de cerveja e foi se juntar ao fórum.

            Do qual, as moças aceitaram o convite para se refrescarem com a poção de Ceres.

            Sendo que, para isso, elas utilizaram os copos (a mais), que, estranhamente, pareciam esperar por elas, sobre a mesa.

            Enquanto isso, eles foram vistoriar a casa ao lado.

            Só que por etapas.

            Primeiramente, cabendo a Amargo a tarefa de pegar a mão e jogá-la por cima do muro.
            O que gerou um ruído que o levou a deduzir que, na manhã seguinte, os ocupantes da morada teriam que trocar a água da piscina.

            Enquanto Jerônimo entrou na casa, acendeu as luzes, apagou as velas, colocou o indicador Ouija em um canto da mesa, com um copo em cima, e, se aproveitando de um orifício que havia no tabuleiro, o pendurou em um prego, com a face voltada para a parede.
            O que o fez se parecer, em função da abstração que havia no verso, com uma obra de Jackson Pollock.

            Depois, eles voltaram para o lado que lhes dizia respeito e as convidaram para jantar.

            E, diante de outra garrafa a ser descerrada, ouve uma aceitação por parte de Regina e Melina.

            Melina que disse estar estudando para se tornar uma legista. Já que sempre teve o fetiche de retalhar a carne humana e não via problema em ser paga para isso.

            Enquanto Regina relatou estar se especializando em fazer cartuns. Pois queria desenvolver um traço próprio e ser remunerada por insultar as pessoas.

            Todavia, Amargo apagou o fogo, colocou o salmão de pé, dentro de um jarro, e enfiou um funil na boca do bicho. Na sequência, pegou a panela e, através de uma peneira, coou o consommé, ao entorná-lo na pança do animal. Então, retirou o funil e, enquanto a boca dele fumegava, perguntou ao amigo se a noite pedia uma Ale ou uma Weiss.
            Ao que o cujo respondeu, alardeando a 02ª opção.
            E, como um garçom, Amargo serviu e bebida e, em seguida, colocou dentro de uma baixela de inox a tábua para carne e, sobre ela, o peixe. Que, com charme e elegância, levou para a mesa. Onde fincou um garfo tridente no bucho do pescado e, com uma reluzente faca do chef, o cortou. Liberando um caldo que inundou a baixela. Depois, dividiu-o em postas e as serviu; sem deixar de se valer de uma colher para regá-las com o molho.
            Não obstante, durante a refeição, Amargo apresentou a Melina alguns questionamentos. Sendo que um era relacionado à existência de um namorado; o outro, sobre o desejo de mantê-la inclusa em seus planos.
            E ela notificou-o de que não esperava algo para ontem. Mas, também, não pretendia se prolongar até amanhã.
            Ademais, Jerônimo já foi mais direto. Ao convidar Regina para brincar de confeitaria; juntando a baguete dele com a rosquinha dela.
            O que, a princípio, ela achou ridículo. Mas até que gostou. Posto que apreciava um homem bruto.

            E, assim, Jerônimo e Regina optaram por deixar Melina e Amargo por lá.

            Porém, Amargo não era de receber um agrado sem contemporizar. Ofertando ao amigo, então, um pacote de café.

            O que causou uma estranheza em Regina. Já que a cuja aspirava ficar acordada até tarde. Mas não ao ponto de testemunhar a aurora com cara de coruja.

            E, consequentemente, cada casal foi acasalar.

            Perpetrando-se, em consequência disso, um cisma na casa ao lado.

            Dado que Regina foi pendurar a calcinha no varal.

            Enquanto isso, Jerônimo foi à cozinha, abriu o pacote e utilizou um garfo para encontrar um dos baseados. Depois, pegou um isqueiro, que estava sobre a pia, e para o quarto rumou.

            Onde se despiu e se deitou na cama, que era de casal. E, por algum tempo, pensou no tipo de intimidade que as duas poderiam cultivar. O que o excitou. Levando-o a cheirar o lençol. Porém, foi interrompido por Regina, que, com um suave mergulho, se deitou ao lado seu.
            De modo a oferecer-lhe apenas a opção de beijá-la.
            O que ele não deixou de fazer.
            O fazendo de um jeito tão gostoso, que ela quase se arrependeu de tê-lo conhecido em um momento de sem-vergonhice.
            Sem mais, Jerônimo pegou o isqueiro e o cigarro, que escondera sob o travesseiro. Pôs brasa no fumo, tragou e assoprou a fumaça para dentro da boca dela.
            Em seguida, ela também inalou e o devolveu para a boca dele.
            E, assim, seguiram, até que o vapor se extinguiu.
            Prosseguindo, nesse ritmo, até que o cigarro virou torpor e se verteu em amor.

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11º MANDAMENTO: A EQUIDADE AMEAÇA A LIBERDADE NORTE-AMERICANA - PARTE 003

CUESTA VERDE / Jornalismo de Verdade 08 de julho de 2023