quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

RETRÔ GIRL (O Ensaio de Marcela Pignatari para a Playboy)

            “Quão belos se tornaram os seus passos, em suas sandálias, oh bem nascida! As curvaturas de suas coxas são como ornamentos esculpidos pelas mãos dum artesão. Seu umbigo é uma taça redonda. Que não lhe falte o mais perfumado vinho. Seu ventre é um monte de trigo, cercado de lírios. Seus peitos são como as crias gêmeas duma gazela.” – são alguns dos versículos que constam no “Cântico dos Cânticos”, de autoria do Rei Salomão.
            Uma peça que tinha o propósito de, como um auto pré-nupcial, instruir os nubentes quanto à necessidade do homem de usar a mulher como mulher. E a qual, por mais que apreciasse o cheiro de um “velcro”, a facilitar as coisas.
            Tudo, porque as comunidades do período pré-cristão – vulgo: pagão – entendiam que o sexo era uma dádiva divina. E, por tanto, um ato litúrgico.
            Uma ação que, na era cristã, passou a ser coibido por meio da monogamia.
            Moldando a sociedade de um modo nefasto.
            Posto que, como um código moral artificial, ela, no fim, restringia a religiosidade masculina.
            Porém, por meio da sua capacidade de se adaptar às adversidades, o homem descobriu que a “canastrice” é o contraponto da “caretice”.
            Elegendo o litoral como local ideal para comprovar sua tese.
            Pois é o lugar onde, em geral, toda mulher fica quase (quando não) nua. Com o fim de se exibir, sem ser taxada de vadia. Já que ninguém aprecia uma mulher vulgar. E também porque é o local em que a cuja que, em outra circunstância, seria sua eventual censora, tem a oportunidade de se tornar uma concorrente.
            Tudo que propicia ao homem (dentro de uma metáfora futebolística) a chance para, tal qual um técnico, escalar as reservas e a titular. Colocando-as na posição que melhor lhe convier.
            O que serviu de mote para a edição de Nº 474 da Playboy de novembro de 2014. Que foi conduzida por Angelo Pastorello – que, na publicação de julho de 2010, foi o responsável pelas fotos de Mônica Apor. E que, dessa vez, deu uma roupagem “vintage” à obra, ao levar Marcela Pignatari, a estrela do mês, para as areias escaldantes da praia de Maresias, em São Sebastião, em São Paulo. A praia que tomou o lugar do Guarujá. Pois é o local em que a elite paulistana – ou seja, o pessoal que carrega do Brasil nas costas – costuma curtir suas férias de verão.
            Onde, à sombra de uma Kombi “de blusa branca e saia amarela”, ela incorpora a “farofeira pós-moderna”. Ou a mulher que, hoje, está ao alcance da pica do cidadão comum. Já que seu corpo se encaixa no padrão “inacessível” de beleza dos anos 1970 e 1980. Em que pesava a fragilidade orgânica. Contrastando com os códigos contemporâneos – que fazem a beleza deixar de ter a passividade de uma armadilha para se tornar uma arma.
            Contudo, essa galega carrega nos peitos um elo com os anos 2000. Pois, por serem lapidados em laboratório, se assemelham a um par de ovos fritos.
            Somando-se uma bunda que teria vaga nos anos 1990. Dado que é comunicativa. Do tipo que diz: “Chega com calma. Mas vem!” Porém, sem se expor ao ridículo. Já que, com sua lábia, ela dissuadi qualquer desvalido da ideia de que “o tamanho da ‘vara’ é indiferente à ‘magia’ que ela pode proporcionar”.
            Enquanto a vagina destoa dos anos 2010, pelo fato de não ser careca. Não que seja cabeluda a ponto de servir de tema para uma caneta floaty. Mas remete à memória a imagem de um ramo de trigo. Cuja haste nasce da ilusão de óptica proveniente da sombra criada pela junção das ninfas.



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